Já por aqui falei, de forma muito superficial, sobre esta enorme casa de restauração. Mas o que se impunha há muito tempo, fica hoje concretizado. Escrever algumas linhas sobre a Tasca do Zé Pinto.
Hoje em dia fala-se com leviandade de tascas, aludindo a sítios chiques com guardanapos de pano. No Zé Pinto (sempre em diminutivo), a palavra tasca é religiosamente preservada.
Mal se chega somos esmagados com a decoração do espaço. As pipas surradas de tinto dão-nos as boas vindas. Na sala, símbolos do Benfica em ponto de cruz, cadeiras de fórmica com pernas de ferro e toalhas de papel foleiro. Só para dar três exemplos.
Está sempre cheio, quando joga o Benfica é tão difícil arranjar mesa como reservar o El Bulli (quase).
O ambiente é único. De executivos a construtores. De casalinhos a jantares de grupo. Da tia Vuitton até ao mais castiço exemplar do bairro. Todos fazem parte da festa, em comunhão.
O serviço é de luxo. O Sr António, chefe de sala, sommelier e barista, dá conta do recado com uma eficiência desconcertante. Em menos de um minuto os nossos pedidos são correspondidos.
Nos comes. Secretos de porco preto, cortados em finas tiras, saborosos e bem assados. Batatas fritas caseiras, cortadas fininhas, com óleo a mais claro, não fosse isto uma tasca, mas tão saborosas. Às sextas a vedeta é o Cozido à Portuguesa. Romaria garantida, que quase nunca chega ao jantar. Também dizem que o peixinho grelhado na brasa é uma maravilha.
Mas a pièce de résistance é o arroz de feijão. É aqui que se chega ao nirvana. Chega à mesa em tacho de alumínio, com o arroz e o feijão no ponto exacto, a nadar naquele caldinho sem grandes condimentos. Simples. Divino. Obrigatório, seja qual for a "guarnição".
Nos vinhos a escolha é fácil e óbvia. Ou verde da casa, não fossem os donos minhotos de gema, ou tinto da casa. As temperaturas e os copos não são para aqui chamados. É outro campeonato.
Para o fim de tudo isto, passem as sobremesas, se bem que o arroz doce caseiro é bem bom, e sigam directos para o café e o bagaço (com jeitinho conseguem o especial dos habitués).
Um dia que a ASAE (vade retro) se lembre deste retiro, vão chover petições. É aproveitar enquanto é tempo, porque esta tasca só faz sentido assim.
Tasca do Zé Pinto,
Algures entre Benfica/Pina Manique/Buraca (não sei mesmo a morada, não é por maldade),
Tel. 21 778 7783,
Preço médio, 11€.
Não basta ter o melhor arroz de feijão do mundo, também tem uma decoração deste nível. A Tasca do Zé Pinto é a tasca em todo o seu esplendor.Marcadores: Lisboa, Restaurante